Poesia com Cuscuz, de Davi Santos, é uma mostra amorosa e potente de um fazer poético que mobiliza, articula e aproxima saberes, espaços e tempos
diversos, rasurando limites entre o popular e erudito. O modo de versar, a linguagem, as temáticas escolhidas e as reflexões empreendidas dizem do enraizamento poético de quem compreende a importância de não desperdiçar experiências. Assim, o menino acadêmico perambula pela sala de aula sem se importar muito quando seu caminhar adentra a cozinha de sua mãe e sente a quentura do cuscuz que, demoradamente, está sendo cozido no fogão de lenha a quilômetros de seu campus universitário. Sua poesia imita seus pés nesse ir e vir: sente e deixa ser as vivências da roça em seus versos cheios de afetividade e de seus aprendizados e questionamentos acadêmicos.
Nesse sentido, também é uma escrita cuja cadência remete aos modos de composição da oralidade nos lembrando que a expressão poética não reconhece essas demarcações. O leitor atento de Poesia com Cuscuz percebe como uma voz se insinua, enquanto seu olhar percorre os versos, convidando-o a uma vocalização do escrito. Sem dúvida, essas coexistências são marcas importantes da poesia de Santos e nos mostram sua competência crítica enquanto estudante de Letras que acolhe os construtos teóricos acadêmicos sem, contudo, tomá-los como absolutos, pois, há muito texto lá fora reclamando posicionamentos teóricos mais dialógicos.
Embora tais questões sejam muito importantes em minha leitura como professora e apreciadora da cultura popular, não poderia deixar de mencionar como sua poesia nos aquece e motiva ao professar que também somos sujeitos das mudanças que desejamos. Nesse intento, precisamos ter
ESPERANÇA do verbo “ESPERANÇAR” e cavoucar a felicidade, carreg[ando] consigo a GRATIDÃO. Em tempos de tantas perdas sua poesia é um lembrete que nem toda quentura ruim é para nos desanimar… repare o cuscuz: ele é aquecido por um vapor quente e torna-se algo delicioso no final. Aguentemos, pois, a quentura, lutando por tempos mais humanos.
Vanusa Mascarenhas Santos
Itaberaba, 12 de setembro de 2022.
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